ARTIGO
Congresso europeu sobre câncer de pulmão aponta novidades no tratamento e diagnóstico da doença
Realizou-se nos últimos dias 15 a 18 de abril, em Geneve – Suiça – o CONGRESSO EUROPEU DE CANCER DE PULMÃO, patrocinados pela ESMO - European Society of Clinical Oncology e IALSC – International Association for Study on Lung Cancer, com a participação de oncologistas clínicos, cirurgiões, pneumologistas e patologistas, entre outros, de vários países.
Este evento acontece todos os anos e é uma oportunidade de se discutir o assunto em profundidade, analisando os últimos dados científicos disponíveis entre profissionais dedicados ao diagnóstico, tratamento e reabilitação dos pacientes com câncer de pulmão. Este ano, o evento foi dedicado principalmente à revisão dos estudos recentes sobre a imunologia e o câncer de pulmão.
Este tema tem sido bastante estudado na atualidade em virtude do interesse surgido pelos resultados de estudos científicos recentes.
O nosso sistema imunológico é o responsável pela detecção de elementos estranhos ao nosso organismo, como bactérias, vírus e fungos e, também, de células doentes que, porventura, possam surgir. Entretanto, no câncer, esse mecanismo está inibido, o que faz com que o sistema imunológico não reconheça essa célula cancerosa doente. Assim, ele não defende nosso organismo, ou seja, não elimina a célula doente, propiciando que o tumor cresça e se espalhe para outros órgãos, através da corrente sanguínea e linfática.
Vários estudos científicos já foram publicados mostrando a eficiência de algumas medicações na inibição das células inibidoras da resposta imunológica (os chamados anti-CTLA-4, anti PD e anti-PDL1), o que reativaria essa resposta e proporcionaria o controle da doença. Algumas dessas medicações já estão sendo utilizadas no tratamento de melanomas (um tipo de câncer de pele mais raro e mais agressivo) e, agora já estão sendo testadas no câncer de pulmão.
Essa se configura uma nova abordagem no tratamento da doença que poderia ser utilizada após o tratamento padrão (como cirurgia, quimioterapia ou radioterapia) ou mesmo, em substituição a esses tratamentos convencionais. Esses estudos já estão bastante adiantados mas, obviamente, ainda não estão com os seus resultados consolidados, necessitando de um maior conhecimento sobre as ações dessas droga, sua eficiência e seus efeitos colaterais, antes de serem utilizadas em larga escala na prática clínica. Contudo, essa abordagem via sistema imunológico constitui uma estratégia promissora no tratamento de vários tumores.
Outro tema importante tratado nesse congresso foi a nova classificação dos tumores pulmonares.
Devido ao aprimoramento das técnicas de diagnóstico do câncer de pulmão, novas formas de apresentação da doença tem sido identificadas. Por exemplo, a tomografia de alta resolução é capaz de detectar tumores iniciais (os chamados tumores in situ) que antes passavam despercebidos pelos métodos disponíveis. Na antiga classificação proposta pela Organização Mundial da Saúde em 2004, esses tumores não eram contemplados, embora soubéssemos da sua existência. Nessa nova classificação de 2015, esses tumores iniciais passaram a ser reconhecidos e classificados, propondo uma abordagem diagnóstica e terapêutica padronizada e, portanto, mais adequada.
Outro elemento que foi incorporado nessa nova classificação do câncer de pulmão foram os conhecimentos sobre biologia molecular adquiridos nos últimos anos. Eles trouxeram uma nova visão sobre a doença, enfatizando o papel dos gens que foram mutados no seu desenvolvimento. Levando-se em consideração todos esses elementos, poderemos ter uma visão mais clara e, portanto, que proporciona condições de diagnósticos mais precoces e precisos e tratamentos mais eficientes.
Neste evento também foram apresentadas e discutidas novas técnicas de tratamento cirúrgico do câncer de pulmão, com abordagens menos agressivas ao paciente que proporcionam uma recuperação mais rápida e com menos complicações no pós operatório.
Também a radioterapia foi tema de várias conferencias. Os autores discutiram o papel dessa técnica no tratamento do câncer de pulmão, sobretudo para aqueles pacientes que tem a função pulmonar limitada, o que não permite a remoção cirúrgica dos tumores. As novas técnicas que surgiram recentemente podem irradiar os tumores poupando os tecidos sadios ao seu redor. Isso é importante, pois podemos preservar um pouco mais a função pulmonar de pessoas que, pelo tabagismo, já sejam portadoras, por exemplo, de enfisema pulmonar.
Essas doenças pulmonares são muito frequentes nos indivíduos portadores de câncer de pulmão. Estima-se que 90% dos portadores da doença são fumantes e, portanto, já possuem algum grau de rebaixamento da função respiratória devido à agressão do fumo sobre o tecido pulmonar. Sendo assim, o desenvolvimento de técnicas de tratamento que visam a preservação do tecido pulmonar funcionante deve ser o nosso objetivo.
O tabagismo também foi bastante discutido. Foram apresentados os resultados de estudos que mostraram que algumas pessoas tem uma característica genética que faz com que elas se tornem mais susceptíveis aos efeitos da nicotina e por esse motivo, mais vulneráveis a se tronarem viciadas no tabaco.
Nesse aspecto, a atitude mais importante seria fazer a prevenção do tabagismo, impedindo que mais pessoas sejam iniciadas no hábito de fumar e se tornarem viciadas. Então, as campanhas antitabaco devem sempre ser estimuladas em todas as comunidades, principalmente voltadas para os adolescentes e adultos jovens que são as populações mais vulneráveis. Tenho a certeza que todos os profissionais que participaram deste Congresso saíram satisfeitos com os conhecimentos que adquiriram.
*Dr. Adilson Faccio, oncologista graduado pela USP de Ribeirão Preto. Doutor em oncologia pela USP, especialista em oncologia clínica. Membro da America Society of Clinical Oncology, e da International Association for Study in Lung Cancer.